Audiência de envio das “Missio ad gentes”, 20-1-2012
Bento XVI
Cidade do Vaticano – Sala Paulo VI, 20 de janeiro de 2012 *
Em 20 de janeiro de 2012, por ocasião
da publicação do “Decreto” no qual vem aprovadas as
celebrações presentes no Diretório Catequético do Caminho
Neocatecumenal, o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos presentes
o discurso que a seguir publicamos.
Ao importante ato, com o qual se conclui o itinerário de
aprovação do Caminho Neocatecumenal (2008: Estatuto; 2010: Decreto de
aprovação do Diretório Catequético do Caminho Neocatecumenal; 2011:
Decreto de aprovação das celebrações que acompanham as várias
fases do caminho de Iniciação Cristã. Ver página…) estavam
presentes os iniciadores, Kiko, Carmen e P. Mario, todos os
itinerantes do mundo, as famílias em missão, as “Missio ad gentes” já
enviadas e as 15 novas “Missio ad gentes” que o Papa enviou nesta
ocasião. Também estavam presentes os responsáveis das
comunidades que concluíram o itinerário Neocatecumenal, os
presbíteros dos “Redemptoris Mater” da Europa, os seminaristas, os
catequistas e as “Communitates in missionem” de Roma.
«Prezados irmãos e irmãs,
Tenho também neste ano a alegria de poder encontrar-me e
compartilhar convosco este momento de envio para a missão. Dirijo uma saudação particular a
Kiko Argüello, a Carmen Hernández e a P. Mario Pezzi, bem como uma saudação carinhosa
a todos vós: sacerdotes, seminaristas, famílias, formadores
e membros do Caminho Neocatecumenal. A vossa presença hoje é um
testemunho visível do vosso compromisso jubiloso de viver a fé, em
comunhão com toda a Igreja e com o Sucessor de Pedro, e de ser
anunciadores intrépidos do Evangelho.
No trecho de são Mateus que ouvimos, os Apóstolos recebem uma ordem específica de Jesus: «Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações!» (Mt 28,19). Inicialmente tinham duvidado, no seu coração ainda havia incerteza, o espanto diante do acontecimento da Ressurreição. E é o próprio Jesus, o Ressuscitado — ressalta o Evangelista — que se aproxima deles, que faz sentir a sua presença, que os envia a ensinar tudo aquilo que lhes tinha comunicado, infundindo uma certeza que acompanha todos os anunciadores de Cristo: «Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!». (Mt 28, 20). São palavras que ressoam fortes no vosso coração. Entoastes o “Resurrexit”, que exprime a fé no Vivente, naquele que, num gesto supremo de amor, venceu o pecado e a morte, oferecendo ao homem, a nós, o entusiasmo do amor de Deus, a esperança de sermos salvos, um futuro de eternidade. Nestas décadas de vida do Caminho, um de vossos compromissos firmes tem sido proclamar Cristo Ressuscitado, responder às suas palavras com generosidade, abandonando com frequência seguranças pessoais e materiais, deixando também o próprio país, enfrentando situações novas e nem sempre fáceis. Levar Cristo aos homens e conduzir os homens a Cristo: é isso que anima hoje a obra evangelizadora. Vós o realizais num percurso que ajuda a fazer redescobrir a quantos já receberam o Batismo, a beleza da vida de fé, a alegria de serem cristãos. O «seguir Cristo» exige a aventura pessoal de sua busca, de caminhar com Ele, mas requer também que abandonemos o fechamento do nosso eu, eliminando o individualismo que muitas vezes caracteriza a sociedade do nosso tempo, para substituir o egoísmo com a comunidade do homem novo em Jesus Cristo. E isso se realiza numa profunda relação pessoal com Ele, na escuta da sua palavra, percorrendo o caminho que Ele nos indicou, mas se leva a cabo também, inseparavelmente, ao crer com a sua Igreja, com os santos, nos quais se dá a conhecer sempre novamente o verdadeiro rosto da Esposa de Cristo.
Como sabemos, esse compromisso nem sempre fácil. Às vezes estais presentes em lugares onde é necessário um primeiro anúncio do Evangelho, a “missio ad gentes”; muitas vezes, em vez disso, em regiões que, embora tenham conhecido Cristo, se tornaram indiferentes à fé: o secularismo fez desaparecer nelas o sentido de Deus e ofuscou os valores cristãos. Aqui o vosso compromisso e o vosso testemunho há de ser como o fermento que, com paciência, respeitando os tempos, com “sensus Ecclesiae”, faz crescer toda a massa. A Igreja tem reconhecido no Caminho um dom especial que o Espírito Santo tem concedido à nossa época, e a aprovação dos Estatutos e do «Directório catequético» são disso um sinal. Encorajo-vos a oferecer a vossa contribuição original para a causa do Evangelho. Na vossa obra preciosa, procurai sempre uma comunhão profunda com a Sé Apostólica e com os pastores das Igrejas particulares, nas quais estais inseridos: a unidade e a harmonia do corpo eclesial constituem um testemunho importante de Cristo e do seu Evangelho no mundo em que vivemos. Amadas famílias, a Igreja vos agradece; ela necessita de vós para a Nova Evangelização. A família é uma célula importante para a comunidade eclesial, onde se forma a vida humana e cristã. Queridos pais, é com grande alegria que vejo os vossos filhos, tantas crianças que olham para vós, para o vosso exemplo. Uma centena de famílias estão prestes a partir para doze Missões “ad gentes”. Convido-vos a não ter medo: quem leva o Evangelho nunca está sozinho. Saúdo com afeto os sacerdotes e os seminaristas: amai a Cristo e a Igreja, comunicai a alegria de o ter encontrado e a beleza de ter doado tudo a Ele. Saúdo inclusive os itinerantes, os responsáveis e todas as comunidades do Caminho. Continuai a ser generosos com o Senhor: Ele dará sempre o seu consolo.
Há pouco foi lido o Decreto com os quais são aprovadas as celebrações presentes no «Diretório Catequético do Caminho Neocatecumenal», que não são estritamente litúrgicas, mas fazem parte do itinerário de crescimento na fé. É mais um elemento que vos mostra como a Igreja vos acompanha com atenção, num discernimento paciente, que compreende a vossa riqueza, mas que olha também para a comunhão e para a harmonia de todo o “Corpus Ecclesiae”.
Este fato oferece-me a ocasião para um breve pensamento sobre o valor da Liturgia. O Concílio Vaticano II define-a como a obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo, que é a Igreja(cf. Sacrosanctum Concilium, 7). À primeira vista, isso poderia parecer estranho, pois tem-se a impressão de que a obra de Cristo designa as obras redentoras históricas de Jesus, a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Então, nesse sentido, a Liturgia é obra de Cristo? A paixão, morte e ressurreição de Jesus não são apenas acontecimentos históricos; alcançam e penetram a história, mas transcendem-na e permanecem sempre presentes no Coração de Cristo. No gesto litúrgico da Igreja encontra-se a presença concreta de Cristo ressuscitado, que torna presente e eficaz para nós, hoje, o próprio mistério pascal, para a nossa salvação; atrai-nos neste gesto de dom de si mesmo, que no seu coração está sempre presente e nos faz participar nesta presença do mistério pascal. Esta obra do Senhor Jesus, que é o verdadeiro conteúdo da Liturgia; este entrar na presença do Mistério Pascal é também obra da Igreja, que, sendo seu corpo, é um único sujeito com Cristo — “Christus totus caput et corpus” —, disse santo Agostinho. Na celebração dos Sacramentos, Cristo imerge-nos no Mistério Pascal a fim de nos fazer passar da morte para a vida, do pecado para a existência nova em Cristo. Isso vale de modo extremamente especial para a celebração da Eucaristia, que, como ápice da vida cristã, é também o fulcro da sua redescoberta, para a qual tende o Neocatecumenato. Como recitam os vossos Estatutos, «a Eucaristia é essencial para o Neocatecumenato, posto que é catecumenato pós-baptismal, vivido em pequenas comunidades» (art. 13, § 1º). Precisamente com a finalidade de favorecer uma nova aproximação à riqueza da vida sacramental por parte de pessoas que se afastaram da Igreja, ou que não receberam uma formação adequada, os neocatecúmenos podem celebrar a Eucaristia dominical na pequena comunidade, após as primeiras Vésperas do domingo, segundo as disposições do Bispos diocesano (cf. Estatutos, art. 13, § 2º). Mas cada celebração eucarística é uma ação do único Cristo, juntamente com a sua única Igreja e, por isso, essencialmente aberta a todos aqueles que pertencem a sua Igreja. Este caráter público da Sagrada Eucaristia manifesta-se no fato de que cada celebração da Santa Missa é presidida, em última análise, pelo Bispo como membro do Colégio episcopal para uma determinada Igreja local(cf. Lumen Gentium, 26). A celebração nas pequenas comunidades, regulada pelos livros litúrgicos, que devem ser seguidos fielmente, e com as particularidades aprovadas nos Estatutos do Caminho, tem a tarefa de ajudar quantos percorrem o itinerário neocatecumenal a sentir a graça de estar inseridos no mistério salvífico de Cristo, que torna possível um testemunho cristão capaz de assumir também os traços da radicalidade. Ao mesmo tempo, o amadurecimento progressivo na fé do indivíduo e da pequena comunidade deve favorecer a sua inserção na vida da grande comunidade eclesial, que encontra na celebração litúrgica da paróquia, na qual e para a qual se realiza o Neocatecumenato (cf. Estatutos, art. 6). Mas também durante o Caminho é importante não se separar da comunidade paroquial, precisamente na celebração da Eucaristia, que é o lugar autêntico da unidade de todos, onde o Senhor nos abraça nos diversos estados da nossa maturidade espiritual e nos une no único pão, que faz de nós um único Corpo (cf. 1Cor 10,16s). Ânimo! O Senhor os acompanha sempre, e também eu vos garanto a minha oração e vos agradeço os numerosos sinais de proximidade. Peço-vos que vos recordeis também de mim nas vossas preces. A Santa Virgem Maria vos assista com o seu olhar materno, e vos sustenha a minha Bênção apostólica, que faço extensiva a todos os membros do Caminho. Obrigado!».
(*) Cfr. «L’Osservatore Romano», 21 janeiro 2012.