Depois de vários anos, foi concluída a fase diocesana de beatificação de Marta Obregón, a jovem assassinada em 1998 pelo chamado “violador do elevador”. A conclusão se deu em 22 de janeiro de 2019 na Faculdade de Teologia do Norte da Espanha (Sede de Burgos). Nela participaram o arcebispo, dom Fidel Herráez Vegas; o postulador diocesano da causa de beatificação, Saturnino López Santidrián; como também o juiz delegado para a causa, Pablo González Cámara; o promotor de Justiça do arcebispado, Jesús Manuel Val Ballesteros; e um notário, Rafael Casado García.
A documentação recompilada pela diocese de Burgos foi enviada à Santa Sé, onde uma comissão já está instruindo o caso.
A seguir reproduzimos a informação publicada no jornal ABC da Espanha:
Marta Obregón, a jovem de Burgos assassinada pelo “violador do elevador”, se põe rumo aos altares
ABC, 11 /2/2019
Chega hoje ao Vaticano a causa de beatificação de uma jovem cuja vida exemplar e sua defesa da virtude endossam um processo canônico que se iniciou na Diocese em 2011.
MONTSE SERRADOR
“Se eu pudesse dar exemplo com minha vida…” Essas são as palavras que deixou escrita a jovem Marta Obregón sem sequer imaginar que seus desejos iam se cumprir, e ainda mais, que anos depois de sua trágica morte se daria início um processo de beatificação para levá-la aos altares. Marta foi assassinada em 21 de janeiro de 1992 por Pedro Luis Gallego, conhecido como o “violador do elevador”, que também meses depois acabou com a vida de Letícia Lebrato de Valladolid. A jovem burgalesa tinha passado a tarde daquele fatídico dia estudando no centro juvenil da capital, e depois de dedicar um tempo à oração na capela, se dirigiu para sua casa. Na portaria foi abordada pelo seu assassino.
Apareceu seis dias depois coberta de neve, nos arredores da cidade, com o corpo dilacerado por 14 facadas e com sinais evidentes de ter resistido ao que foi inevitável.
Aos que assistiram ao velório não se passou desapercebido o rosto de Marta, “sua doçura e serenidade, possíveis só a alguém que perdoou”, assegurou um tempo depois a mãe da jovem. Algumas palavras confirmadas pelo policial que participou no caso e encontrou o corpo inerte: “É a primeira vez que eu vi um rosto tão cheio de paz”. De modo que, anos depois se iniciou um caminho para reconhecer as virtudes da jovem, seu estilo de vida, e sua trágica morte buscando defender a virtude da castidade. Ela estava perto de terminar a faculdade de jornalismo, e chegou a dar seus primeiros passos na carreira em Burgos, e inclusive teve namorado, mas, antes que um desalmado se cruzasse pelo seu caminho, já tinha mostrado seu desejo de levar outra vida bem diferente, de passar um tempo como missionária pelo movimento Neocatecumenal ao qual pertencia. A opção pela vida consagrada também passou pela sua cabeça, como deixou marcado pelas várias visitas ao Mosteiro das Clarissas de Lerma.
Hoje, 27 anos depois da sua morte, chegaram ao Vaticano 114 documentos (800 páginas) do processo diocesano de beatificação de Marta Obregón, que foi iniciado em 2011 pelo postulador da causa, Saturnino López Santidrián, que será o encarregado de depositá-los na Congregação para a Causa dos Santos.
Até 20 favores
Um trabalho de oito anos no qual são fornecidos relatórios que vão desde os próprios dados biográficos de Marta e as circunstâncias da sua morte até testemunhos dos que a conheceram, passando pelas pessoas que afirmam ter recebido “favores” graças a intercessão da jovem, em forma de curas ou soluções a situações familiares complicadas. Até 20 “ajudas” com essas características são apresentadas nos documentos. Deve ser levado em conta que para o processo de beatificação não é necessário que exista um milagre, já que se busca a confirmação da vida martirial da futura beata pelo qual, se confirmado, se considera que está diretamente unida ao Mistério Pascal, segundo explica Saturnino López.
Sejam «favores» ou milagres, o certo é que na documentação que hoje chega a Roma estão recolhidos cerca de 20 casos de pessoas que asseguram terem sido curadas de suas doenças pela intercessão de Marta – está incluso o caso de um menino com câncer que chegou à metástase e que foi curado – ou que encontraram uma saída a situações familiares complicadas, a maioria tendo como protagonistas jovens e adolescentes.
Mas é necessário voltar a 2007 para, da mão do então arcebispo de Burgos, dom Francisco Gil Hellín, encontrar o começo de um processo que começou graças a uma carta que ele recebeu de alguém que a conheceu, Montserrat Agustí, amiga da mãe e anos depois membro da Comissão para a Beatificação. O prelado, depois de consultar os bispos sufragâneos da província eclesiástica, pediu autorização a Roma para dar início ao processo. Em 2010, o fundador do Caminho Neocatecumenal, Kiko Argüello, ofereceu-se como promotor da causa – seria a primeira beata desta comunidade católica –. de maneira que esta foi aberta, oficialmente, em 14 de junho de 2011. Cerca de 50 pessoas testemunharam durante este tempo ante um tribunal diocesano formado pelo delegado episcopal, um promotor de justiça e dois notários da diocese. Também contaram com uma comissão histórica.
Com toda a documentação será elaborada um “Positio”, que é uma espécie de dossiê da causa que será analisado por nove teólogos peritos nomeados pela Santa Sé, onde a doutora Silvia Correale será a postuladora. Haverá um novo relatório que depois passará pelo Consistório dos Bispos e Cardeais que encaminharão seu parecer ao Santo Padre para tomar uma decisão final.
Marta Obregón poderia se tornar então uma das poucas beatas que teve o martírio reconhecido por preservar sua castidade. Sua morte aconteceu, precisamente, na festividade de Santa Inés, uma virgem romana martirizada pela mesma causa, como explicou Saturnino López. A jovem burgalesa recebeu 14 punhaladas, quantidade igual à que recebeu Santa Maria Goretti, uma menina italiana de 12 anos canonizada por este mesmo motivo. São casualidades que, para muitos, são sinais que se somam à vida desta crente burgalesa assassinada em 1992.